terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Radio speaking...

*Radio voice*
...Ladies and... Please welcome... by his song...
*Radio voice*


Outra vez, sempre o mesmo, deitada sobre a cama.
Não há nada que faça, nem algo para que me mexa.
Olho no tecto da minha cama e simplesmente não.
Não, não consigo, estou espelhada para este vazio.
Vazio do quê ? pergunto-me eu, apenas não durmo.
A noite ainda começou e o sono fugiu-me depressa.
Divago, divago nos meus pensamentos. Talvez...
Talvez não deveria ter feito aquela pequena sesta.
Agora não durmo, não descanso, ou talvez o faça.
Apenas não o saiba, mas quem sou eu, mera mortal.
Mera sonâmbula, sonâmbula não, ainda aqui estou.
Acordada e bem viva e mexediça, viro-me de lado.
Nada, nada me faz descansar, nem o rádio ligado.


*Radio voice*
...With some great... We present to... the next song...
*Radio voice*


Só música para que eu descontraia, mas não faço.
Não porque não queira, mas porque não consigo.
O corpo está demasiado desperto, não há maneira.
Ou será o cérebro demasiado excitado o culpado?
Agora não me interessa saber quem é o responsável.
Só quero voltar a adormecer, se é o que faço mesmo.
Como sei se adormeci antes deste terrível acidente.
Se simplesmente acordei ? A mim ninguém responde.
Não agora, não neste momento, todos adormeceram.
Tal como eu também o deveria, mas não o faço, não.
Mas quero, quero voltar a dormir, voltar ao meu sono.
Não faz mal que não sonhe hoje, só quero descansar.
Não deve ser muito a pedir, logo eu, menina normal.
Não desejo muito, ou pelo menos acredito muito nisso.
Só quero dormir.


*Radio voice*
...This next song... to say a... goodbye to you all... Goodnight...
*Radio voice*

sábado, 25 de dezembro de 2010

 Passo a passo.


A areia granulada é sentida nos pés descalços da menina morena.
Ainda está fria e húmida.
Passo a passo.

A chuva bate na sua doce cara, e cada gota misturada com a maresia que o mar transporta graças ao vento, toca na sua face, agora voltada para o céu.
Passo a passo.

O céu azul transforma-se num céu amarelo e rapidamente acinzentado.
Passo a passo.

O mar revolta-se, mexe-se mais, quando a sente cada vez mais perto dele.
Passo a passo.
Ela avança cuidadosamente, o seu vestido branco, transparecendo o corpo graças à água, esvoaça cada vez mais com o vento que se aproxima rapidamente contra ela.
Passo a passo.

Mas ela não desiste de aproximar, o medo apodera-se dela, nota-se na sua cara.
Passo a passo.

O mar ainda mais revoltado, levanta-se numa onda de um cinco metros, ameaçando-a de afogar.
Passo a passo.

Cada vez mais decidida a menina, o mar não a pára, não hoje, não agora.
Passo a passo.

A apenas uns passos da onda grande que o mar criou, a pequena menina olha para cima, para a crista da onda, de cara molhada, olhos lavados, coração batendo com força contra o peito.
Mais um suave passo.

O mar louco, raivoso, desejando engolir-la na sua fúria, intrusa a menina que o invade na sua calma privacidade. Ela olha para ele, e uma lágrima de um vermelho vivo como sangue nasce nos seus olhos azuis da cor de um mar tempestuoso, e preenche o branco dos olhos. Ela fecha os olhos pela primeira vez e a vermelha gota salgada como o sangue, brotada do íntimo do seu delicado coração cai sobre o vestido branco, manchando-o mais e mais, quase o tornando vermelho também. A menina abre os olhos, olha para a onda e abre os braços como que para um abraço ao mar.
Mais um último passo.

A pequena menina funde-se com o mar. A onda desvanece, o mar acalma, o sol volta a aparecer, o vento descansa, a praia aquece.
Como se nada tivesse acontecido